"Vivi, nos últimos dois meses, uma extraordinária experiência humana: conversar, em manhãs previamente agendadas, com Manoel Soares Leães, o Maneco.
Movido pela curiosidade histórica mas tambem por um sentimento de amizade, que se aprofundou em nossos encontros,executava o projeto de um livro com as memórias do homem que mais conviveu com o ex-presidente João Goulart.
Em parte consegui realizar meu intento.
Mas, ontem a tarde, quando a notícia da morte do Maneco chegou pelo telefone, não consegui impedir que a emoção mais profunda me deixasse num estado de profunda perplexidade.
Desde de 1950, quando conheceu Jango, até a morte do líder no exílio, em Dezembro de 1976, Maneco foi o mais constante e o mais leal servidor do ex-presidente.
Esteve com ele nos momentos de glória e da solidão mais implacável.
Ouviu seus planos, guardou suas queixas e decepções.
E quando Jango precisou de Maneco, principalmente nos momentos de perigo, lá estava ele para estender a mão amiga.
E pagou com isso, com prisões e longas ausências de sua família. Mas quando falava a respeito de seu amigo e do chefe, os olhos do Maneco se iluminavam. Ele relembra o ser profundamente humano e solidário que foi o presidente Goulart. Mas também homem silencioso e às vezes impenetrável.
Ele dizia: Jango morreu de tristeza. Eu lhes digo hoje: todos nós amigos do Maneco, morremos um pouco, da mesma tristeza, porque viajou para o céu um ser humano, íntegro e obstinado na defesa de seus ideais humanitários."
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