sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Brizola


Brizola permaneceu mais de um mês na clandestinidade em solo gaúcho, todas as informações davam conta de que os militares me matariam, não havia outra alternativa se não o exílio, afirma Brizola.
 Pediu aos amigos que levassem a mulher Neusa e seus filhos para Montevidéu. Manoel Leães conta que, em fins de Abril de 1964, estava acompanhando o ex-Presidente João Goulart. Na ocasião Brizola, escondido em Porto Alegre, buscava uma forma de sair do País.

Maneco recebeu então, um emissário em seu apartamento a rua Bolivar España com a Rambla em Positos- Montevidéu, que lhe propôs a missão de resgatar o ex-Governador,Leonel Brizola.
 "Durante 10 dias estudei a possibilidade de fazer o resgate na capital gaucha, e por ser muito arriscado, alternativa seria o litoral gaucho".
"Pedi ao emissário que fosse analisado o movimento da maré alta e baixa, com areia firme poderia pousar com segurança, e na beira da praia teria que estar um caminhão e dois carros no formato de uma cruz, esse seria o sinal que o plano não havia sido descoberto".

Leães rasgou ao meio uma nota de um cruzeiro ficando com a metade,a outra metade seria entregue pelo emissário que traria o plano de resgate de Brizola.
O deputado Helio Fontoura, veranista de Cidreira, foi o encarregado de analisar o melhor horário, seria entre 7h e 8h da manhã, areia estaria firme para Maneco pousar.
  "Passado alguns dias, fui avisado a comparecer no hotel Lancaster no centro de Montevidéu, onde Neusa e seus filhos estavam hospedados".
 "Sabendo do que seria, peguei o carro de Jango e fui o mais rápido, ao chegar Neuza e o emissário Ajadil de Lemos, portando a outra metade de um cruzeiro e com o plano de resgate".
 "Um dia antes comentei com minha esposa que iria viajar para o interior uruguaio, receber os gados que Jango tinha comprado"
.
"Para ludibriar os agentes que estavam nos vigiando, peguei minha família e fui para Punta del Este, e orientei minha esposa a voltar para Montevidéu, caso não retorna-se até o final da tarde".
  "As 5h da manhã do dia seguinte, decolei do aeroporto de Punta del Este, totalmente as escuras, fui para o interior uruguaio, teria que chegar a Cidreira entre 7h e 8h da manhã".

Em 15 de maio 1964, Manoel Soares Leães, pilotando o Cessna 310 bimotor prefixo PT-BSP, levantou voo clandestinamente do aeroporto da cidade de Alcahuel, interior uruguaio, "ao decolar sintonizei na rádio Guaiba no VOR, e durante o voo, onde ouvi uma autoridade do Governo dizer que em 48 horas Brizola estaria preso".

 "Cheguei a pensar, então seremos dois os presos, por medida de precaução voei baixo, pouco mais de um metro acima das ondas do mar, para não ser percebido pelos radares, ao me aproximar do litoral, fui para a praia de Cidreira-RS, no clarear do dia, ao chegar a praia, notei que nem tudo o que havia sido combinado não estava acontecendo, faltava um carro".  "Pensei em regressar, o plano havia sido descoberto, mas mesmo assim resolvi me aproximar de qualquer maneira, a dúvida desapareceu quando sobrevoei a praia e vi o Brizola saindo de trás dos cômolos de areia acenando com um capacete branco na mão e vestido com a farda da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul, emprestada pelo coronel Átilo'.
             
"Posei na beira da praia, nem desliguei os motores, abri a porta do avião e Brizola estava entrando, eu já estava decolando, Brizola ainda estava fechando a porta, em direção ao Uruguai."
 Durante o retorno, Brizola perguntou: "Maneco olha para trás pra ver se vem vindo algum avião da FAB, não há mais o perigo de sermos interceptados, ,já estamos perto da fronteira".
 "Pouco depois ultrapassamos a fronteira, saindo do território nacional, anunciei a Brizola, já estamos no espaço aéreo Uruguaio! Ele apertou a minha mão e agradeceu": "Obrigado Maneco!"
Manoel S. Leães pousa na cidade de Sarandi Grande a 150 km de Montevidéu, início do seu exílio, e última operação de Leães em solo brasileiro.
Brizola parecia aliviado porque iria se encontrar com a família, a viagem terminou em Solymar,um balneário nos arredores de Montevidéu, onde o ex-Presidente João Goulart o esperava.

Quinze anos depois o mesmo Maneco, iria buscar Brizola, em Assunção - Paraguai, no dia 7 de Setembro as 7:30 horas da manhã, abordo do avião Seneca de prefixo PT-ESO, de João Vicente Goulart, levando o ex-Governador e sua comitiva com destino a São Borja - RS. As 9:30 horas da manhã, pousa o avião na pista da Granja São Vicente de propriedade do ex-Presidente João Goulart.

    
      Brizola (E), Manoel Leães (C), e Wilson Vargas (E), Sao Borja - RS

 Mais de 30mil pessoas o esperavamcom Maneco desembarcaram, Neusa e filhos,  Sereno  Chaise,  Wilson  Vargas  e  Pedro Simon,   encerrando   seu   exílio.


                       Manoel Leães(E), e Brizola em São Borja.
            Brizola para poder vencer a multidão que queriam tocá-lo, teve que subir na capota de uma combi, acenando para o povo. 


Depoimento do Jornalista Kenny Braga:

"Vivi, nos últimos dois meses, uma extraordinária experiência humana: conversar, em manhãs previamente agendadas, com Manoel Soares Leães,  o Maneco.
 Movido pela curiosidade histórica mas tambem por um sentimento de amizade, que se aprofundou em nossos encontros,executava o projeto de um livro com as memórias do homem que mais conviveu com o ex-presidente João Goulart.
Em parte consegui realizar meu intento.
 Mas, ontem a tarde, quando a notícia da morte do Maneco chegou pelo telefone, não consegui impedir que a emoção mais profunda me deixasse num estado de profunda perplexidade.
Desde de 1950, quando conheceu Jango, até a morte do líder no exílio, em Dezembro de 1976, Maneco foi o mais constante e o mais leal servidor do ex-presidente.
 Esteve com ele nos momentos de glória e da solidão mais implacável.
Ouviu seus planos, guardou suas queixas e decepções.
E quando Jango precisou de Maneco, principalmente nos momentos de perigo, lá estava ele para estender a mão amiga.

 E pagou com isso, com prisões e longas ausências de sua família. Mas quando falava a respeito de seu amigo e do chefe, os olhos do Maneco se iluminavam. Ele relembra o ser profundamente humano e solidário que foi o presidente Goulart. Mas também homem silencioso e às vezes impenetrável.

Ele dizia: Jango morreu de tristeza. Eu lhes digo hoje: todos nós amigos do Maneco, morremos um pouco, da mesma tristeza, porque viajou para o céu um ser humano, íntegro e obstinado na defesa de seus ideais humanitários."

Arquivo do blog

Créditos





Texto: Manoel Laquito



Blog: Cris Stanza (http://www.acasadojava.com.br/)